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Medicamentos anti-reumáticos modificadores da doença convencionais e biológicos na doença renal crônica e hemodiálise

Recebido 6 November 2023 Autores:
Juan Camilo Santacruz Devia
santa89@hotmail.com
Código ORCID
https://orcid.org/0000-0002-2367-2016
Institución
Comité de estudios médicos
Título académico
Médico internista-Reumatólogo
Marta Juliana Mantilla
mjmantillar9007@gmail.com
Código ORCID
https://orcid.org/0000-0001-5901-3613
Institución
CIREEM IPS
Título académico
Médico internista-Reumatólogo
Sandra Pulido
sandrapulido@hotmail.com
Código ORCID
https://orcid.org/0000-0003-3687-380X
Institución
CIREEM IPS
Título académico
Médico internista-Reumatólogo
Diana Cristina Varela
dianacristinavarela@gmail.com
Código ORCID
https://orcid.org/0000-0002-6935-9615
Institución
Comité de estudios médicos
Título académico
Médico internista-Reumatólogo
Carlos Alberto Agudelo
caragu88@gmail.com
Código ORCID
https://orcid.org/0000-0002-7525-6794/print
Institución
Comité de estudios médicos
Título académico
Médico internista-Reumatólogo
John Londoño
john.londono@unisabana.edu.co
Código ORCID
https://orcid.org/0000-0003-1074-644X
Institución
Universidad de La Sabana
Título académico
Doctor en Investigación Médica Aplicada
https://doi.org/10.46856/grp.10.e181
Citar como:

Santacruz Devia JC, Mantilla MJ, Pulido S, Varela DC, Agudelo CA, Londoño J. Medicamentos anti-reumáticos modificadores da doença convencionais e biológicos na doença renal crônica e hemodiálise. Global Rheumatology. Vol 5/ Ene - Jun [2024] Available from: https://doi.org/10.46856/grp.10.e181 

Diagrama de flujo 1. Diagrama de búsqueda
Tabla 1. Modificaciones de las dosis de los FARMES sintéticos convencionales sugerida según los niveles de evidencia
Tabla 2. Modificaciones de las dosis de los FARMES sintéticos convencionales dirigidos y biológicos sugerida según los niveles de evidencia
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Licença

Este é um artigo de acesso aberto distribuído sob os termos da licença Creative Commons Atribuição-Uso Não Comercial-Partilha pela Mesma Licença (CC BY-NC-4). É permitido copiar e redistribuir o material em qualquer meio ou formato. Pode remisturar, transformar e criar a partir do material. Deve dar os devidos créditos, fornecer um link para a licença e indicar se foram feitas alterações. Pode fazê-lo de qualquer forma razoável, mas não de forma que sugira que o licenciante o endossa ou a sua utilização do material. Não pode utilizar o material para fins comerciais.

Medicamentos anti-reumáticos modificadores da doença convencionais e biológicos na doença renal crônica e hemodiálise

A doença renal crônica avançada e as diferentes modalidades de terapias renais substitutivas têm sido uma grande limitação na prescrição das diferentes terapias convencionais e biológicas utilizadas para o tratamento de diferentes doenças autoimunes. Muitos deles persistem com grande atividade, necessitando do uso de outros tipos de medicamentos como glicocorticóides ou anti-inflamatórios não esteroides, perpetuando ainda mais seus efeitos adversos. Além disso, a maioria dos estudos clínicos excluiu pacientes com doença renal crônica e as evidências para a continuação dos tratamentos biológicos neste cenário baseiam-se nas propriedades farmacocinéticas ou em relatos de casos onde os resultados foram favoráveis. A falta de conhecimento e a ausência de orientações claras para a tomada de decisão quanto ao início da terapia convencional ou biológica neste contexto geram uma falta de continuidade na prescrição dos tratamentos, o que diminui a resposta terapêutica e afeta negativamente a qualidade de vida dos pacientes. . Por este motivo, é realizada uma revisão narrativa com o objetivo de estabelecer um consenso prático que unifique as recomendações para cada um dos tratamentos mais utilizados no controle de diversas doenças autoimunes em pacientes com doença renal crônica avançada.

O rim tem sido frequentemente afetado por diversas doenças autoimunes prevalentes, como a artrite reumatoide (AR), o lúpus eritematoso sistêmico (LES) e a esclerose sistêmica (ES) (1). Isso pode ser devido tanto ao dano associado à atividade da doença quanto ao comprometimento crônico vinculado ao uso de certos fármacos imunossupressores (2). Além disso, o uso frequente de anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) também foi identificado como um fator que contribui para a progressão da doença renal, associado a outras comorbidades como diabetes e hipertensão arterial (3). Historicamente, a doença renal crônica tem representado uma limitação significativa para a utilização de fármacos antirreumáticos modificadores da doença (DMARDs), tanto sintéticos quanto biológicos, devido ao fato de que alguns conferem um risco aumentado de toxicidade, tornando-os inseguros nesse contexto. Da mesma forma, é importante destacar que há uma notável escassez de estudos clínicos que investiguem a eficácia e segurança dos DMARDs em pacientes com doença renal crônica (DRC) e submetidos à diálise (4). Sabe-se que a DRC é caracterizada por um estado inflamatório crônico, respaldado pelo aumento de vários fatores de crescimento e mediadores inflamatórios, como a proteína C reativa, o fator de necrose tumoral e a proteína 1 quimioatraente de monócitos (5). Isso sugere que a inflamação sistêmica desempenha um papel crucial no comprometimento da função renal, destacando a necessidade de bloquear esses mediadores para mitigar o dano renal (6). Esse fenômeno é evidenciado em casos de amiloidose secundária, especialmente na artrite reumatoide (AR) e na espondilite anquilosante, onde se requer o uso de inibidores do fator de necrose tumoral (iFNT) apesar da existência prévia de dano renal estabelecido (7). Devido à persistência dessa paradoxo, a prescrição dos DMARDs na DRC atualmente se baseia nas características farmacocinéticas e farmacodinâmicas de cada medicamento, deixando de lado a evidência derivada dos estudos clínicos (8). Além disso, existem várias questões, como: a grande discordância quanto às recomendações referentes ao ajuste das doses de vários DMARDs de acordo com a taxa de filtração glomerular (TFG); o desconhecimento se os ajustes e o metabolismo dos DMARDs diferem de acordo com cada doença autoimune; a incerteza sobre a existência de variações nas concentrações plasmáticas devido a interações farmacológicas frequentes; e o questionamento até que ponto é possível definir o benefício da continuidade de cada DMARD caso a doença renal progrida (9).

Metodologia

Foi realizada uma revisão narrativa não sistemática da literatura desenvolvida nos idiomas inglês, francês, espanhol e alemão. É relevante destacar que não foram identificados estudos clínicos para a realização de uma revisão sistemática ou uma metanálise. O objetivo desta revisão foi compilar as informações mais representativas disponíveis nos artigos referenciados em bases de dados primárias como: PubMed, Embase e Google Scholar. Os termos MeSH (Medical Subject Headings) utilizados foram: “Doença renal crônica”, “Fármacos antirreumáticos modificadores do curso da doença convencionais”, “Inibidores do fator de necrose tumoral”, “Inibidores de JAK”, “Ciclofosfamida”, “Rituximabe”; foram combinados utilizando operadores booleanos (AND, OR). Buscou-se ampliar a pesquisa para outros medicamentos frequentemente utilizados, como secuquinumabe, ixekizumabe, guselcumabe e abatacepte, sem obter dados representativos para fazer uma recomendação. A seguir, apresenta-se um diagrama de fluxo que detalha a estratégia de busca (Diagrama 1).

Fármacos antirreumáticos modificadores do curso da doença convencionais

Metotrexato

O metotrexato (MTX) é um pró-fármaco que se ativa por poliglutamação dentro da célula. Esse processo ocorre de maneira gradual, podendo levar até 27,5 semanas para alcançar seu estado de equilíbrio. Esse intervalo explica o tempo necessário para atingir o efeito platô da resposta terapêutica (10). A principal via de eliminação do medicamento é renal, sendo que aproximadamente 80-90% é excretado inalterado pela urina. Essa característica explica por que qualquer redução na TFG acarreta um aumento nos níveis séricos do medicamento e, portanto, um maior risco de mielotoxicidade (11). O MTX está contraindicado quando a TFG é inferior a 30 ml/min; se a TFG estiver entre 30-59 ml/min, recomenda-se uma dose inicial mais baixa (7,5-10 mg semanais). Outros autores propõem que o medicamento seja contraindicado quando a TFG for inferior a 45 ml/min, uma vez que a meia-vida de eliminação do medicamento dobra de 11 para 22,4 horas em comparação com pacientes com função renal normal, enquanto com uma TFG de 45-60 ml/min, a meia-vida dobra apenas até 13,5 horas (12). Foram relatados casos de toxicidade por metotrexato (inclusive morte) em pacientes submetidos à hemodiálise, mesmo com uso de doses baixas, e com doses mais altas foi necessária a prescrição de leucovorina ou diálise prolongada com membranas de alto fluxo para facilitar sua eliminação (13)(14). Também está contraindicado em pacientes em diálise peritoneal, embora possa ser prescrito (com redução de 50% da dose) quando for necessária terapia de substituição renal contínua (15).

Leflunomida

A farmacocinética da leflunomida na DRC é amplamente desconhecida. Alguns estudos demonstraram que a teriflunomida (metabólito ativo da leflunomida) foi semelhante após a administração de 100 mg de leflunomida em três pacientes em diálise peritoneal e reduzida em pacientes em hemodiálise, em comparação com controles saudáveis. Apesar disso, a fração livre do fármaco em pacientes submetidos à diálise foi maior (1,51%) em comparação com os 0,62% observados nos controles. Esse achado sugere a necessidade de uma vigilância mais estreita ao considerar a administração de leflunomida em casos de insuficiência renal avançada (16). A leflunomida posiciona-se como o fármaco de primeira escolha em casos de insuficiência renal avançada devido às suas propriedades farmacocinéticas favoráveis. É importante considerar outros possíveis efeitos adversos, como a dificuldade de controle da hipertensão arterial, atraso na cicatrização de feridas e aumento do risco de infecções (17).

Sulfassalazina

A nefrotoxicidade associada à sulfassalazina (SSZ) é atribuída predominantemente à nefrite intersticial, seja aguda ou crônica. Essa complicação pode se manifestar nos primeiros 12 meses de tratamento ou até mesmo após vários anos. É importante ressaltar que a nefrite intersticial é idiossincrática e geralmente não está relacionada diretamente à dose administrada (18). Também foi relatada lesão renal aguda secundária à cristalúria induzida pelo fármaco, razão pela qual sua suspensão em pacientes que apresentam nefrotoxicidade é considerada necessária.

Dependendo do mecanismo causador da lesão renal aguda, as medidas de suporte adicionais dependerão, como a hidratação ou a prescrição de glicocorticoides (19). É importante destacar que os preparados de ácido 5-aminossalicílico (5-ASA), como a SSZ e a mesalazina, raramente podem induzir nefrite intersticial alérgica. Essa condição apresenta recuperação em até 85% dos casos após a suspensão do medicamento. Um estudo realizado em pacientes com doença inflamatória intestinal revelou uma diminuição da TFG naqueles tratados com preparados de 5-ASA. Nesse sentido, a perda foi mais pronunciada no grupo que recebeu SSZ (−19,5±24,3 ml/min) em comparação com a mesalazina (−7,5±24,7 ml/min), possivelmente atribuível a uma maior duração do tratamento no primeiro grupo (20). Em pacientes com doenças autoimunes e DRC, recomenda-se iniciar o tratamento com a menor dose dentro da faixa habitual quando a TFG for inferior a 60 ml/min. Embora existam dados limitados sobre a segurança do uso da SSZ em pacientes com doença renal em estágio terminal, sabe-se que a SSZ não é dialisável, pois se liga em mais de 99% às proteínas plasmáticas. A dose de 1 grama por dia demonstrou ser bem tolerada em pacientes que requerem hemodiálise. No entanto, não há dados suficientes sobre a eficácia ou segurança de doses superiores. Ressalta-se a necessidade de reunir mais informações para avaliar a adequação do tratamento com SSZ nessa população específica (21).

Antimaláricos (Cloroquina / Hidroxicloroquina)

Após a administração oral, a cloroquina (CQ) e a hidroxicloroquina (HCQ) são absorvidas rápida e quase completamente. Elas se distribuem nos tecidos em concentrações variáveis, dado que possuem um grande volume de distribuição. O nível sanguíneo máximo é atingido após aproximadamente 4 horas para a CQ e entre 2 a 6 horas para a HCQ. No sangue, cerca de 50% da CQ/HCQ se liga às proteínas plasmáticas. Em órgãos sólidos como o coração, pulmões, rins e fígado, encontram-se níveis teciduais significativamente mais altos (10 vezes maiores) em comparação com o plasma. O princípio ativo tem alta afinidade por tecidos que contêm melanina (principalmente pele e olhos) (22). A meia-vida da CQ e da HCQ varia entre 40 e 50 dias, sendo seus principais metabólitos a mono desmetil cloroquina e a mono desmetil hidroxicloroquina. Aconselha-se reduzir a dose de HCQ e CQ em 50% quando a TFG for inferior a 30 ml/min. A incidência de efeitos adversos oculares tende a aumentar com a diminuição da função renal. Em situações de insuficiência renal, recomenda-se priorizar a HCQ devido à sua menor eliminação renal, já que a mono desmetil hidroxicloroquina é excretada principalmente pelas fezes, com eliminação renal em menor grau. Alguns autores sugerem a redução da dose para 50% apenas em casos de TFG inferiores a 10 ml/min e quando se prevê uso prolongado. Esse ajuste também é recomendado para pacientes submetidos à hemodiálise e à diálise peritoneal. No entanto, no caso de pacientes em terapia de substituição renal contínua, não é necessário reduzir a dose (23).

Azatioprina

A azatioprina é convertida no metabólito ativo 6-mercaptopurina no fígado e nos eritrócitos. A maioria de seus metabólitos é biologicamente inativa, com exceção da 6-mercaptopurina, que é parcialmente excretada por via renal, e do ácido 6-tioinosínico, que se forma a partir da 6-mercaptopurina e permanece de forma intracelular (24). Por este motivo, quando a TFG está na faixa de 10-50 ml/min, a dose de azatioprina deve ser reduzida para 75% da dose padrão. Outros autores sugerem administrar 75% da dose em situações onde a TFG varia entre 10-30 ml/min (24). Em casos de TFG inferiores a 10 ml/min ou quando o paciente está em hemodiálise, recomenda-se reduzir a dose para 50% e administrá-la após cada sessão, já que aproximadamente 48% do fármaco é eliminado pela diálise em um período de 8 horas (25).

A seguir, é apresentada uma tabela que mostra as modificações nas doses dos fármacos sintéticos convencionais, sugeridas de acordo com os níveis de evidência (Tabela 1).

Inibidores do fator de necrose tumoral

Etanercepte

O mecanismo exato de depuração do etanercepte é desconhecido, embora se acredite que o metabolismo ocorra por vias peptídicas, provavelmente mediadas pela ligação Fc no sistema reticuloendotelial (26). Os aminoácidos resultantes, produtos do metabolismo, são reciclados ou eliminados pela bile ou pela urina. A estrutura de imunoglobulina proporciona ao medicamento uma meia-vida de 3 a 4,8 dias. Um relato de caso com insuficiência renal demonstrou que a meia-vida do etanercepte se prolongou levemente, enquanto outro estudo com 6 pacientes em hemodiálise mostrou que a farmacocinética não se alterou em relação aos controles (27). As pequenas séries de casos que abordaram o tratamento com etanercepte na dose de 25 mg, uma ou duas vezes por semana, na doença renal terminal, não documentaram efeitos adversos (28) (29).

Golimumabe, Adalimumabe e Certolizumabe

Não existem dados farmacocinéticos sobre o uso de golimumabe, adalimumabe ou certolizumabe na insuficiência renal avançada, mas foi proposto que os anticorpos são hidrolisados por lisossomos, com catabolismo intracelular sem necessidade de participação renal. Existem apenas dados clínicos para o adalimumabe, oriundos de um estudo retrospectivo que não mostrou infecções graves nem outros efeitos adversos em pacientes com TFG de 41,6 ml/min (n=39), em comparação com o controle de 83 ml/min (n=26), incluindo 2 pacientes em diálise (30).

Inibidores da Janus Quinase

Tofacitinibe

O tofacitinibe é um inibidor da Janus quinase (JAK) que é metabolizado principalmente no fígado por meio do citocromo 3A4 e 2C19. Cerca de 70% da depuração ocorre por via hepática, enquanto os 30% restantes são excretados por via renal (31). Nos estudos de AR, foram excluídos pacientes com TFG < 40 ou 50 ml/min. Existem poucos dados sobre o uso de tofacitinibe com TFG < 40 ml/min, portanto, não deve ser utilizado em insuficiência renal avançada e, caso seja necessário, a dose deve ser reduzida em 50%. Além disso, no caso de continuar seu uso de forma absoluta em doença renal terminal, é indicado administrá-lo após cada sessão de diálise, uma vez que uma parte é dialisável (31).

Baricitinibe

A dose recomendada de baricitinibe é de 4 mg uma vez ao dia. Uma dose de 2 mg ao dia é recomendada para pacientes com mais de 75 anos e para aqueles com histórico de infecções crônicas ou recorrentes (32). A depuração corporal do baricitinibe é de 8,9 L/h, com uma meia-vida de quase 12 horas. A bula do medicamento recomenda a dose de 2 mg para pacientes com TFG entre 30 e 60 ml/min. O uso de baricitinibe não é recomendado em pacientes com depuração de creatinina < 30 ml/min (33).

Upadacitinibe

O upadacitinibe é um inibidor de JAK com maior seletividade por JAK1 do que por JAK2, JAK3 ou TYK (34). Peso, sexo, raça, idade, insuficiência renal (leve, moderada ou grave) e insuficiência hepática leve ou moderada (Child-Pugh A ou B) não têm implicações que afetem sua segurança (35). Em um estudo, foi demonstrado que a depuração renal do upadacitinibe diminuiu progressivamente de acordo com a gravidade da insuficiência renal (5,6 l/h em indivíduos com função renal normal e 1,06 l/h em indivíduos com insuficiência renal grave). As análises farmacocinéticas populacionais do upadacitinibe em pacientes com artrite reumatoide demonstraram que aqueles com insuficiência renal leve a moderada (com uma depuração média de creatinina de 40 mL/min) apresentaram um aumento de 16 a 32% nas concentrações plasmáticas em comparação com os controles (36). Apesar disso, a depuração renal global do medicamento é muito baixa e não é necessário realizar ajustes, a menos que a TFG seja inferior a 30 ml/min, caso em que está contraindicado (37).

Ciclofosfamida e Rituximabe

A ciclofosfamida, que é inativa por si só, é convertida no fígado em metabólitos ativos 4-hidroxiciclofosfamida e aldofosfamida por meio das enzimas CYP2B6 e CYP3A4. Cerca de 20-25% da ciclofosfamida é excretada inalterada pela urina. Na presença de insuficiência renal, sua depuração diminui de forma significativa. A ciclofosfamida possui baixa ligação às proteínas plasmáticas, enquanto seus metabólitos se ligam em até 50%. Os metabólitos também são excretados principalmente por via renal (38). Por esse motivo, é necessário ajustar a dose para 75% da dose habitual quando a TFG estiver entre 10-30 ml/min, e reduzi-la para 50% nos casos em que a TFG for inferior a 10 ml/min. A ciclofosfamida apresenta dializabilidade moderada (20-50%), sendo recomendado manter o ajuste da dose em 50% em situações de hemodiálise intermitente. Nestes casos, aconselha-se administrar a próxima dose durante a sessão seguinte, respeitando um intervalo mínimo de 12 horas antes da aplicação posterior (39). O rituximabe não é eliminado durante a hemodiálise, podendo ser administrado nas doses padrão em pacientes com doença renal avançada em estágio terminal sem necessidade de ajuste (40).

Tocilizumabe

Foi identificado um relato de caso de uma paciente japonesa de 64 anos com AR que alcançou o objetivo de baixa atividade da doença pelo DAS28-PCR e reduziu a dose de glicocorticoides com a administração de tocilizumabe durante hemodiálise na dose de 8 mg/kg a cada 4 semanas, sem descrição de efeitos adversos relacionados à aplicação (41).

A seguir, apresenta-se uma tabela com as modificações das doses dos iFNT e FARMEs sintéticos direcionados sugeridas de acordo com os níveis de evidência (Tabela 2).

Apesar de serem conhecidos aspectos farmacológicos relevantes em relação aos DMARDs na prática clínica diária, as informações ainda são insuficientes para emitir graus de recomendação com níveis mais elevados de evidência em pacientes com DRC. Apesar disso, foi possível unificar a evidência disponível até o momento, a fim de emitir recomendações seguras e práticas, fundamentadas em suas propriedades farmacológicas e, em alguns casos, baseadas em relatos de caso nos quais os resultados foram satisfatórios. A leflunomida é o fármaco sintético convencional que apresenta maior segurança em pacientes com doença renal crônica em estágio avançado, e a maioria desses medicamentos requer ajuste conforme a TFG. Os anti-TNF, ao passarem por catabolismo intracelular sem depender da participação renal para sua depuração, poderiam ser seguros nesse contexto. No entanto, os casos relatados com desfechos satisfatórios têm sido associados principalmente ao etanercepte e ao adalimumabe. Quanto aos inibidores de JAK, o upadacitinibe não requer ajuste de dose com TFG maior que 30 ml/min, enquanto o tofacitinibe e o baricitinibe requerem ajustes na doença renal crônica (DRC) estágio 3. O tofacitinibe é o único inibidor de JAK que foi prescrito em alguns casos de pacientes submetidos à hemodiálise. É importante levar em consideração o ajuste da ciclofosfamida quando a TFG cai abaixo de 30 ml/min, devido ao maior risco de eventos adversos, que incluem supressão da medula óssea, infecções, maior propensão à malignidade e hiponatremia. O rituximabe, por outro lado, pode ser administrado sem contraindicações em qualquer estágio da DRC.

Como autores deste artigo, certificamos que nenhum dos materiais do manuscrito (incluindo tabelas e figuras) foi publicado anteriormente, nem está incluído em qualquer outro documento.

Este artigo não recebeu financiamento específico do setor público, setor comercial ou de entidades sem fins lucrativos.

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