As forças impulsionadas pela inovação tecnológica estão transformando cada vez mais o panorama das publicações científicas. Há vários anos vêm sendo propostas mudanças substanciais no modelo de desenvolvimento das publicações científicas, motivadas por novas políticas e visões sobre a produção, distribuição e globalização do conhecimento, o que tem levado a sérios questionamentos sobre práticas há muito estabelecidas neste campo tradicionalmente conservador (1).

Mesmo antes da pandemia de COVID-19, a indústria editorial já passava por grandes transformações, impulsionadas pelos avanços tecnológicos e novas abordagens na gestão do conhecimento — em termos de produção, manuseio e disseminação global — que têm forçado uma reavaliação dos modelos econômicos e de produção de todos os tipos de periódicos, incluindo os médicos (2).

A crise mundial desencadeada pela pandemia do coronavírus trouxe lições importantes. Hoje já é possível afirmar que a forma como a ciência é feita e comunicada no mundo está mudando — talvez de forma definitiva. Enquanto no campo político assistimos ao fechamento de fronteiras, a comunidade científica quebrou barreiras e criou uma colaboração global sem precedentes (3).

As revistas científicas têm sido, tradicionalmente, o principal meio de comunicação científica. Durante a crise, grandes editoras criaram seções especiais para conteúdos sobre o coronavírus e ofereceram acesso gratuito aos artigos, reduzindo drasticamente os tempos de comunicação numa verdadeira corrida contra o tempo para manter o público leitor e disseminar informações relevantes e oportunas que pudessem ajudar no cuidado dos pacientes. Devido à urgência na divulgação de informações científicas, grande parte da ciência foi publicada como preprints — publicações preliminares que existem há anos justamente porque o processo de revisão por pares costuma ser demorado (4).

A pandemia acelerou inesperadamente processos que já estavam em curso. Formas alternativas de comunicação científica se fortaleceram, como as teleconferências entre especialistas, que permitiram o aprendizado em tempo real a partir de outras regiões do mundo, possibilitando respostas adaptadas à medida que o vírus se espalhava. O uso da telemedicina disparou e a educação médica adotou rapidamente o ensino virtual como uma tábua de salvação diante do distanciamento físico e das medidas de isolamento social.

Nunca antes tantos especialistas, em tantos países, se concentraram com tanta urgência em um único tema. Muitos provavelmente sentem que as mudanças estão acontecendo rápido demais e ainda precisam de tempo para se consolidar. Mas a verdade é que a maioria das tecnologias utilizadas durante a pandemia já existia e vinha sendo promovida há anos.

A PANLAR tem, historicamente, utilizado diferentes veículos para compartilhar o conhecimento em reumatologia na nossa região. Desde a publicação da Acta Reumatológica em 1950, passando pelos Arquivos Interamericanos de Reumatologia em 1957 e o Boletim da PANLAR em 1982. A associação com o Journal of Clinical Rheumatology (JCR), como órgão oficial da PANLAR desde 2001, permitiu o acesso a uma revista indexada, que atualmente possui um fator de impacto de 1.89 (5).

Acreditamos que chegou o momento de apresentar ao mundo um projeto global a partir da região Pan-Americana — algo que estamos desenvolvendo há mais de um ano a pedido do Comitê Executivo. A iniciativa foi compartilhada com os membros do Conselho Diretor, Comitê Editorial, grupos de estudo e muitas outras pessoas próximas à organização. O apoio irrestrito e os valiosos comentários recebidos nos permitiram chegar a esta nova etapa. Quando apresentamos oficialmente o primeiro esboço da plataforma junto aos desenvolvedores e colaboradores imediatos — hoje um time coeso — deixamos claro que nossa intenção não era repetir projetos já existentes, mas sim apostar no futuro. Não no futuro das revistas (journals) em si — das quais já existem muitas — mas no futuro da comunicação científica.

Com este projeto, buscamos abordar várias lacunas na disseminação do conhecimento científico, como a falta de impacto fora dos meios estritamente acadêmicos, a dependência excessiva de citações e a necessidade de promover métricas mais adequadas ao século XXI. Também consideramos necessário agilizar os processos editoriais, valorizar melhor o trabalho dos revisores e promover a ciência produzida pela ampla comunidade que compõe nossa liga — sempre mantendo os padrões esperados pela comunidade global da especialidade e com base na equidade, ética humana e científica.

A Global Rheumatology by PANLAR (GRP) é uma plataforma de disseminação do conhecimento pensada para as novas gerações, embora a pandemia tenha evidenciado que seu momento chegou. A GRP oferece uma combinação única: uma seção para artigos originais de pesquisa e outros formatos tradicionais de publicação científica, e uma seção em formato de magazine, dedicada à divulgação do impacto desses estudos originais ou de pesquisas geradas pela nossa comunidade. Ambas as seções serão apresentadas de forma integrada, intuitiva, acessível e visualmente atrativa — o que a diferencia imediatamente dos periódicos médicos tradicionais.

Queremos que a GRP seja uma revista para ler (voltada para sua audiência), publicar (para compartilhar conhecimento entre pares) e divulgar (para que a ciência alcance efetivamente o público geral) — uma revista de reumatologia do século XXI. A primeira do seu tipo em nosso campo de estudo e em nossa comunidade. Buscamos oferecer à reumatologia uma nova perspectiva — algo difícil de alcançar seguindo regras pensadas para os séculos XIX e XX.

Esperamos que a proposta da PANLAR à comunidade global de reumatologia seja bem recebida e contribua para o avanço da especialidade não apenas em nossa região, mas também globalmente — permitindo que suas ideias e experiências sejam mais amplamente conhecidas, e que a plataforma se torne uma das preferidas para publicação e disseminação dos trabalhos de uma comunidade verdadeiramente global.